Alternativas da Somatic Experiencing ® sobre procrastinação

 

Liane S. P. Pinto

Psicóloga especialista em clínica desde 1990, Mestre em Saúde Coletiva, Personal & Professional Coach, professora internacional de Somatic Experiencing®.
Website: lianepintodh.com | Instagram: @lianepintodh

Minha missão é ajudar pessoas e organizações em seu caminho de transformação.


A Somatic Experiencing® (SE) é uma abordagem naturalista de resolução de estresse e trauma, criada pelo doutor em Biofísica Médica e Psicologia Peter Levine, que levantou um questionamento importante:

“Por que os animais selvagens, em seu habitat natural, sem influência dos homens, sofrem risco de vida, se submetem a situações de estresse intenso e não se traumatizam?”

Estudando Etologia, Psicologia e Neurofisiologia, ele percebeu que os animais, nessas condições, descarregam o estresse. Já os seres humanos, imersos em sociedade, tendem a controlar suas expressões emocionais devido a normas culturais e julgamentos sociais sobre o que é adequado. Dessa forma, reprimimos nossas respostas instintivas de defesa, acumulamos estresse em nossos sistemas e nos traumatizamos.

De acordo com Levine et al. (2015), o trauma é uma desregulação da Core Response Network (CRN) ou rede de resposta central, que envolve várias áreas do sistema nervoso, como o autônomo, límbico e motor. Quando ocorre essa desregulação, podemos nos sentir incapazes, impotentes, imobilizados e sem energia vital para seguir com nossos propósitos.

Em outras palavras, a sobrecarga traumática pode ser uma das causas da procrastinação.

Segundo o Dicionário Online de Português, procrastinação é o ato de adiar, deixar atividades ou tarefas para depois. No entanto, nem sempre isso é uma escolha consciente. Muitas vezes, trata-se de um padrão de imobilidade e impotência, que pode ser causa e consequência de baixa autoestima. Nesse ciclo vicioso, o sujeito adia suas atividades porque não está bem e, por não cumpri-las, sente-se ainda pior.

Assim como o coaching, a SE® é mais operativa que analítica, mais corporal que verbal, menos explicativa e mais pragmática. Diferente de outras abordagens psicoterapêuticas, é possível pensar em um processo terapêutico com 15 a 20 sessões.


O Trauma e a Procrastinação

Com base nos conhecimentos da Somatic Experiencing®, o trauma se manifesta através de padrões fixados em diferentes aspectos da experiência humana. Podemos, por exemplo, apresentar:

  • Sensações repetitivas: sensação de peso, como se estivéssemos “arrastando correntes invisíveis”.
  • Medo inconsciente: impedindo-nos de seguir adiante com nossos desejos, projetos e sonhos.
  • Pensamentos em loop: avaliações e dúvidas intermináveis que drenam nossa energia, levando à procrastinação.

A procrastinação leva ao acúmulo de tarefas, aumentando a ansiedade, ou à culpa e ao aborrecimento consigo mesmo, gerando ainda mais estresse.

Como Interromper Esse Ciclo?

  1. Autocompaixão: O primeiro passo é reconhecer que procrastinar não é fruto de preguiça ou irresponsabilidade, mas pode estar ligado a uma impossibilidade real. O auto-perdão facilita a empatia consigo mesmo e com os clientes que vivenciam essa situação.
  2. Identificar a origem: Se atuamos como coachs ou terapeutas, é essencial compreender quando a procrastinação começou e quais eventos a desencadearam. Isso ajuda a focar nas técnicas adequadas para suporte.
    • Exemplo: Uma cliente que procrastinava a escrita da dissertação descobriu, por meio do rastreamento (técnica que estimula a interocepção), que o motivo era um aperto no peito e uma crença limitante de que não conseguiria concluir. Trabalhamos com técnicas da SE®, e, em duas semanas, ela finalizou sua defesa de mestrado com sucesso.
  3. Pendulação: Essa técnica busca equilibrar opostos, como tensão e relaxamento. Podemos pedir ao cliente que recorde momentos de descanso e de ação, alternando entre eles para estimular o movimento fisiológico e sair da imobilidade.
  4. Movimento na linha do tempo: É possível trabalhar com ensaios mentais, convidando o cliente a visualizar o futuro onde a tarefa já foi concluída. Depois, voltamos no tempo identificando bloqueios para estimular a pendulação e a liberação emocional.
  5. Observação fisiológica: Diferente do coaching, a SE® acessa o sistema nervoso do cliente por meio da observação de suas respostas fisiológicas, utilizando ressonância para identificar se a procrastinação tem origem traumática.
  6. Educação somática: Transformar o cliente em um cocriador de sua própria transformação pessoal.

Quando conseguimos renegociar traumas e liberar o sistema nervoso da sobrecarga acumulada, resgatamos nossa energia vital, criatividade e força para realizar nossos sonhos. O impossível se torna possível.


Referências:

  • Levine, P. – O despertar do tigre: Curando o trauma (2015). Summus Editorial.
  • Levine, P. – Uma voz sem palavras: Como o Corpo Libera o Trauma e Restaura o Bem-Estar (2012). Summus Editorial.
  • Payne, P., Levine, P.A., Crane-Godreau, M.A. (2015) Somatic Experiencing: o uso de interocepção e propriocepção como elementos centrais na terapia do trauma. Front. Psychol.
  • Materia publicada no site revistacoachingbrasil.com.br edição 124.
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